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https://hdl.handle.net/10316/101641
Title: | A medicalização da Obesidade em Portugal: dos contornos neoliberais às experiências locais de doença | Authors: | Matos, Marta Isabel da Silva Roriz de | Orientador: | Padez, Cristina Maria Proença Quintais, Luís Fernando Gomes da Silva |
Keywords: | Obesidade; Antropologia Médica Crítica; Economia política de saúde; Tratamento Cirúrgico de Obesidade; Narrativas de doença; Critical medical anthropology; Obesity; Political economy of health; Obesity surgical treatment; Illness narratives | Issue Date: | 5-Jul-2022 | Project: | info:eu-repo/grantAgreement/FCT/FARH/SFRH/BD/97206/2013/PT/COMO O SOCIAL SE TORNOU MEDICALIZADO, O CASO DA OBESIDADE: GENEALOGIA DE UMA EPIDEMIA, DETERMINAÇÃO SOCIAL E A CENTRALIDADE DAS POLITICAS PÚBLICAS | metadata.degois.publication.location: | Coimbra | Abstract: | Esta tese parte da abordagem da Antropologia Médica Crítica para analisar o processo de medicalização da obesidade, uma condição de saúde que tem sido descrita como de génese multifatorial, com controvérsias em torno da sua classificação como doença, e, no entanto, reconhecida como epidemia e sindemia. O estudo foca esse processo de medicalização no contexto português, país identificado com tendo uma das taxas de prevalência entre as mais altas da Europa e que tem levado a cabo um Programa Nacional de Tratamento Cirúrgico de Obesidade na rede nacional de cuidados de saúde.
O principal objetivo deste estudo é duplo, e assenta em dois níveis, ou dois espaços de investigação. Um é o espaço que se entendeu como estando num nível micro, ou seja, local e geograficamente situado num lugar que é o espaço físico da unidade hospitalar onde se conduziu o trabalho de campo, a unidade X, de forma a etnografar as práticas clínicas e sobre as quais se produziu uma praxiografia, descrevendo o seu funcionamento, atores, rotinas, e interações médico-paciente através da observação intensiva nos diferentes espaços de consulta. Foi também aí onde se conduziram entrevistas de fundo que permitiram recolher narrativas a partir dos modelos explicativos e experiências pessoais de doença com pacientes que passaram por diferentes cirurgias bariátricas. O segundo espaço de investigação, entende-se aqui como operando a um nível mais macro, e compreende o espaço político, económico e social mais alargado no contexto da determinação da obesidade, oferecendo uma leitura da economia política da obesidade. Esta tarefa implicou traçar ligações, analisando instituições, redes de poder e movimentos sociais em torno da condição de obesidade.
Unir ambos os níveis, ambos os espaços de investigação, foi possibilitado pela mobilidade da etnografia multissituada e da antropologia como capacidade de interliteracia. Pretendeu-se conjugar diferentes domínios disciplinares para descrever como certas dinâmicas políticas e económicas globais têm vindo a contribuir para a prevalência da obesidade nas populações. De como processos como a globalização e a crescente neoliberalização no mundo alteraram profundamente a paisagem social, o ambiente nutricional, o mundo do trabalho e a sua crescente precariedade e insegurança social, e de como estes fenómenos têm gerado grandes impactos de saúde nos metabolismos humanos, com potencial de perpetuação de efeitos nefastos para a saúde das gerações vindouras, através de complexos mecanismos biológicos. Por fim, uma análise ao conceito e estudos da governamentalidade, permite articular como uma
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governamentalidade neoliberal tem contribuído para a individualização das responsabilidades de saúde - a emergência do sujeito liberal, um sujeito que faz escolhas individualmente, e que tem de agir como empreendedor da sua própria vida e saúde - por contraposição a uma crescente retração das responsabilidades dos estados na saúde colectiva e na gestão dos riscos, trazendo valor etnográfico, e visibilidade às histórias de sofrimento social, desigualdades sociais e estigma escondidas por detrás das estatísticas. This thesis uses the Critical Medical Anthropology approach to analyze the medicalisation process of obesity, a health condition that has been described as having a multifactorial origin, and an epidemic of syndemic countours, but with controversies around its classification as a disease. The study focuses on this medicalisation process in the Portuguese context, a country identified as among those with the highest prevalence rates in Europe, which has been carrying out a National Program for the Surgical Treatment of Obesity within the National Health Service. The main objective of this study is twofold, based on two levels, or research spaces. The first one, understood as being at a micro level, is locally and geographically situated in the physical space of the hospital unit where fieldwork was conducted. The objetive was to create a praxiography of the clinical practices, and to ethnograph and describe the functioning of the hospital unit, its actors, routines, doctor-patient interactions through intensive observation in the different consultation spaces. It was also the place where in-depth interviews were conducted. These interviews allowed to collect illness narratives based on patients explanatory models and their personal experiences under different bariatric surgeries. The second space of investigation, understood as operating at a macro level, comprises the broader political, economic and social determinants shaping and promoting the incidence of obesity. The main objetive in the second level of the research is to offer a reading on the political economy of obesity. This task involved tracing connections, analyzing institutions, power networks and social movements around the condition of obesity. Uniting both levels, both spaces of investigation, was made possible by the mobile character of multi-sited ethnography and of anthropology as a capacity for interliteracy. By bringing together different disciplinary domains we aimed to describe how certain global political and economic dynamics have been contributing to the prevalence of obesity in populations; focusing how processes such as globalization and neoliberalization of the world have profoundly altered the social landscape, the nutritional environment, labour conditions with its growing precariousness and social insecurity, and how these phenomena have generated major health impacts on human metabolisms, with the potential to perpetuate harmful effects on the health of future generations through complex biological mechanisms. ix Finally, through an analysis of the concept of governmentality and we can articulate how a neoliberal governmentality has contributed to the individualisation of health responsibilities - with the emergence of the liberal subject, a subject who has to make individual choices, and who has to act as an entrepreneur of his own life and health - in contrast to a growing retrenchment of the states' responsibility for collective health and risk management, bringing ethnographic value and visibility to the stories of social suffering, social inequalities and stigma which are hidden behind the statistics. |
Description: | Tese no âmbito do Doutoramento em Antropologia, Antropologia Social e Cultural apresentada ao Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências Tecnologia da Universidade de Coimbra. | URI: | https://hdl.handle.net/10316/101641 | Rights: | embargoedAccess |
Appears in Collections: | UC - Teses de Doutoramento FCTUC Ciências da Vida - Teses de Doutoramento |
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