PRE-ECLAMPSIA E INFEÇÃO PELO SARS-COV-2 EM GRÁVIDAS: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS

Abstract

Introdução: A pré-eclampsia, uma complicação potencialmente grave da gravidez com etiologia desconhecida, é definida pela ocorrência de hipertensão arterial (pressão arterial ≥140 mmHg sistólica ou ≥90 mmHg diastólica) às 20 semanas de gestação ou após, quando anteriormente a gestante se encontrava normotensa. Desde o início da pandemia de COVID-19, alguns estudos têm relatado um aumento na incidência de pré-eclâmpsia em grávidas infetadas pelo SARS-CoV-2. Apesar de apresentarem características idênticas, estas duas entidades devem ser discriminadas uma da outra. Objetivo: Discutir os vários parâmetros clínicos e analíticos que nos poderão ajudar a realizar o diagnóstico diferencial entre pré-eclampsia e a síndrome semelhante à pré-eclampsia induzida pelo SARS-CoV-2. Métodos: A pesquisa na base de dados PubMed e UptoDate, recorrendo a palavras chave, permitiu selecionar artigos publicados entre 2018 e 2023, assim como outros suplementares de interesse. Resultados: A pesquisa bibliográfica identificou 188 artigos. Foram excluídas 166 publicações após revisão do título e abstract, por não cumprirem os critérios de elegibilidade. Discussão: Parece haver um maior número de complicações obstétricas, destacando a pré-eclampsia, em gravidas infetadas pelo SARS-CoV-2. Esta associação entre pré-eclampsia e infeção pelo SARS-COV-2 em grávidas pode ser explicada por diversos mecanismos, entre os quais resposta inflamatória exacerbada, inflamação local com disfunção endotelial, microangiopatia trombótica, desequilibro entre os fatores pro-angiogénicos e anti-angiogénicos alterações do sistema renina-angiotensina-aldosterona com um favorecimento das substâncias vasoconstritoras, estando estes mecanismos a contribuir para a patogénese da hipertensão gestacional. Os fatores pro-angiogénicos e anti-angiogénicos tem sido utilizados para diferenciar estas duas identidades. Conclusão: A síndrome semelhante à PE desencadeada pelo SARS-CoV-2 deve ser um diagnóstico a ter em consideração, sendo crucial a sua distinção de pré-eclampsia, através da razão entre o fator solúvel semelhante ao recetor da tirosina cinase 1 e o fator de crescimento placentário, para que sejam tomadas melhores decisões clínicas. Assim, os profissionais de saúde devem conhecer esta identidade e monitorizar cuidadosamente as gestações com suspeita de pré-eclampsia.

Introduction: Preeclampsia is a potentially serious complication of pregnancy, although still with an unknown etiology. It is defined by the occurrence of high blood pressure (blood pressure ≥140 mm Hg systolic or ≥90 mm Hg diastolic) at 20 weeks of gestation or later, when the pregnant woman was previously normotensive. Since the onset of the COVID-19 pandemic some studies have reported an increased incidence of pre-eclampsia in pregnant women infected with SARS-CoV-2. Despite presenting identical characteristics, these two entities should be distinguished from each other. Objective: Discuss the various clinical and analytical parameters that may help us to perform the differential diagnosis between pre-eclampsia and the preeclampsia-like syndrome induced by SARS-CoV-2. Methods: Research in the PubMed and UptoDate databases, using keywords, allowed the selection of articles published between 2018 and 2023, as well as other supplementary articles of interest. Results: The literature search identified 188 articles. 166 publications were excluded after reviewing the title and abstract, as they did not meet the eligibility criteria. Discussion: There appears to be a higher number of obstetric complications, highlighting preeclampsia, in pregnant women infected with SARS-CoV-2. This association between preeclampsia and SARS-COV-2 infection in pregnant women may be explained by several mechanisms, including exacerbated inflammatory response, local inflammation with endothelial dysfunction, thrombotic microangiopathy, imbalance between pro-angiogenic and antiangiogenic factors, and alterations in the renin-angiotensin-aldosterone system which favors vasoconstrictor substances. These mechanisms contribute to the pathogenesis of gestational hypertension. Pro-angiogenic and anti-angiogenic factors have been used to differentiate these two entities. Conclusion: The preeclampsia-like syndrome induced by SARS-CoV-2 should be a diagnosis to consider, and it should be distinguished from pre-eclampsia through the ratio between soluble fms-like tyrosine kinase 1 and placental growth factor, in order to make better clinical decisions. Therefore, healthcare professionals should be aware of this condition and carefully monitor pregnancies suspected of having pre-eclampsia.