Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/23060
Title: Desenvolvimento Pós-Traumático, Adaptação Emocional e Qualidade de Vida em Mulheres com Cancro da Mama
Authors: Silva, Sónia Isabel Martins da 
Orientador: Canavarro, Maria Cristina Cruz Sousa Portocarrero
Issue Date: 20-Mar-2013
Citation: SILVA, Sónia Isabel Martins da - Desenvolvimento pós-traumático, adaptação emocional e qualidade de vida em mulheres com cancro da mama. Coimbra : [s.n.], 2013. Tese de doutoramento
metadata.degois.publication.location: Coimbra
Abstract: O diagnóstico de uma doença ameaçadora da vida como o cancro da mama, expõe a mulher a um conjunto de exigências ao longo das diferentes fases do curso da doença, que podem originar mal-estar emocional e dificuldades nas diversas áreas da vida. No entanto, investigações mais recentes têm alertado para a possibilidade deste diagnóstico funcionar, simultaneamente, como um importante catalisador da experiência de mudanças psicológicas positivas, designadas por Desenvolvimento Pós-Traumático (DPT). No processo de adaptação ao cancro da mama, algumas variáveis podem intervir como fatores de vulnerabilidade e/ou de proteção, originando múltiplos resultados de adaptação, quer de natureza psicopatológica, quer de desenvolvimento. Por outro lado, a perceção de mudanças psicológicas positivas pode promover a adaptação psicológica, funcionando como um buffer de resultados inadaptativos. A presente investigação pretendeu analisar o processo de adaptação psicológica da mulher com cancro da mama ao longo das diversas fases da doença, no que respeita aos índices de ansiedade e depressão, qualidade de vida e DPT, aferindo a influência dos contextos sociodemográficos, clínicos e psicossociais, enquanto fatores de vulnerabilidade ou de proteção. Por outro lado, teve também por objetivo o estudo das condições necessárias à emergência do DPT, e do papel do DPT no processo de adaptação psicológica. Esta investigação é constituída por um estudo longitudinal (estudo V) e por cinco estudos transversais, um deles desenvolvido com o objetivo de analisar as características psicométricas do Inventário de Desenvolvimento Pós-Traumático, com vista à sua utilização nos estudos subsequentes (estudo 0). O estudo longitudinal incluiu uma amostra constituída por 50 mulheres que foram avaliadas em três fases distintas do curso da doença, nomeadamente: diagnóstico recente ou pré-cirurgia (M1); tratamento adjuvante (M2) e recuperação (M3). Os estudos transversais incluíram na sua totalidade 82 mulheres na fase de diagnóstico recente; 78 mulheres na fase de tratamento e 85 mulheres na fase de recuperação e sobrevivência. Foi também utilizado um grupo de controlo, constituído por um total de 160 mulheres da população geral, sem história de doença oncológica. Para além da recolha de dados clínicos e sociodemográficos, foram avaliados indicadores de adaptação psicológica, entre eles a qualidade de vida (WHOQOL-Bref), a ansiedade e a depressão (HADS). Foram também analisados os índices de DPT (PTGI), as estratégias de coping (Brief COPE), as representações da doença (Brief IPQ) e o caráter traumático do cancro da mama (dois itens construídos para o efeito). Nos seis estudos efetuados, e no que respeita à caracterização da adaptação da mulher ao longo das diversas fases da doença, são de destacar os seguintes resultados: 1) a fase de diagnóstico recente é caracterizada por índices de ansiedade elevados, por limitações na qualidade de vida física e perceção de saúde inferior à população geral; apesar disso, esta fase corresponde ao momento em que as mulheres sentem maior satisfação com o apoio recebido pela rede social de apoio; 2) a fase de tratamento caracteriza-se por uma melhoria na adaptação emocional, contudo, por uma diminuição da qualidade de vida global e física; apesar do cancro da mama ser avaliado como tendo um impacto negativo na vida da mulher, a maioria evidencia índices elevados de DPT; 3) na fase de recuperação, os índices de adaptação emocional e qualidade de vida são semelhantes aos da população geral, à exceção de alguns aspetos do funcionamento físico e sexual; apesar de 51% das mulheres considerar, retrospetivamente, a experiência de cancro da mama como traumática, 60% da amostra revela, nesta fase, índices de DPT moderados a extremos. Relativamente aos fatores de vulnerabilidade e de proteção, os resultados evidenciam que: 1) entre as variáveis sociodemográficas, um nível elevado de escolaridade é protetor da qualidade de vida, sobretudo na fase de tratamento; 2) as variáveis clínicas não se associam aos indicadores de adaptação emocional, qualidade de vida e DPT; 3) uma representação mais negativa do impacto da doença associa-se a resultados mais negativos de adaptação emocional e qualidade de vida física e psicológica; 4) a perceção do cancro da mama como uma experiência traumática associa-se a índices mais elevados de ansiedade; 5) o recurso a estratégias de coping mais confrontativas numa fase inicial da doença, sobretudo de natureza cognitiva, prediz resultados mais positivos de adaptação emocional e qualidade de vida na fase da recuperação, contrariamente ao recurso às estratégias de evitamento; 6) a utilização de estratégias de coping cognitivo e de procura de apoio social na fase de diagnóstico recente permite predizer índices mais elevados de DPT na fase de tratamento. Relativamente ao estudo das condições de ocorrência do DPT, são de salientar os seguintes resultados principais: 1) a experiência de DPT é significativamente mais elevada entre as mulheres com cancro da mama do que na população geral; 2) para a emergência do DPT, o acontecimento não tem de ser necessariamente avaliado como traumático, ter um impacto marcadamente negativo na vida da mulher ou estar associado a consequências mais agressivas. Por último, no que respeita à relação entre o DPT e a adaptação psicológica, foram obtidos os seguintes resultados: 1) o DPT associa-se a índices mais reduzidos de depressão e melhor qualidade de vida psicológica e social durante as fases de tratamento e recuperação/sobrevivência; 2) o DPT, avaliado na dimensão relativa à perceção de recursos e competências pessoais, durante a fase de tratamento, prediz uma melhoria na qualidade de vida psicológica, bem como uma redução da sintomatologia depressiva, na fase de recuperação; 3) a associação entre DPT e qualidade de vida psicológica só é significativa no caso das mulheres com cancro da mama, sendo irrelevante na população geral; 4) por sua vez, esta relação é condicionada pela perceção de ameaça subjacente, existindo apenas nas situações em que o cancro da mama não é percecionado como traumático; 5) o DPT desempenha um efeito amortecedor (buffer) na adaptação, na medida em que protege as mulheres que têm uma representação mais negativa do impacto da doença de apresentarem resultados de adaptação também mais negativos, nomeadamente, índices mais elevados de depressão e menor qualidade de vida psicológica e social; 6) a perceção de recursos e competências pessoais, na fase de tratamento, medeia o efeito das estratégias de coping na adaptação psicológica, na fase de recuperação. De uma forma global, os resultados obtidos permitem-nos concluir que o cancro da mama é um acontecimento adverso, avaliado como traumático por uma em cada duas mulheres. Este diagnóstico está associado a um aumento significativo da ansiedade e compromete a qualidade de vida a nível físico, sexual, autoestima e perceção de saúde em geral. Apesar disso, a grande maioria das mulheres tende a apresentar um padrão de adaptação resiliente, e as repercussões negativas do cancro da mama são, na sua generalidade, transitórias, e manifestam-se sobretudo nas fases iniciais da doença. A implementação de esforços cognitivos para lidar com os diferentes desafios associados à doença, baseados em estratégias que envolvem o planeamento de ações, a aceitação do diagnóstico, a reinterpretação mais positiva da doença e o humor, contribui para uma adaptação mais positiva. Estas estratégias, associadas à procura de apoio por parte de outros significativos, quer a nível emocional, quer instrumental, favorecem a experiência de DPT em diversas áreas da vida. Segundo os dados encontrados nesta investigação, o DPT não é uma experiência normativa, porém associa-se à vivência de um acontecimento negativo e suficientemente ameaçador, embora não necessariamente traumático. Esta experiência tem um papel relevante na adaptação psicológica, sobretudo na redução dos índices de depressão e na melhoria da qualidade de vida psicológica e social, funcionando como um buffer do impacto de uma perceção mais negativa do cancro da mama na adaptação. Paralelamente, a perceção de mudanças positivas nos recursos e competências pessoais medeia o efeito positivo do coping na adaptação. Assim sendo, mais do que o resultado direto do coping, a adaptação é influenciada pela experiência de DPT. Deste modo, consideramos que os resultados obtidos nesta investigação, ao reforçarem a multiplicidade de trajetórias individuais, representam um contributo significativo e inovador para a compreensão do processo de adaptação psicológica ao cancro da mama. Paralelamente, oferecem pistas relevantes para o desenvolvimento de investigações futuras e para a planificação e implementação de intervenções psicológicas mais eficazes nesta população.
Description: Tese de Doutoramento em Psicologia, na área de Psicologia da Saúde, apresentada à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
URI: https://hdl.handle.net/10316/23060
Rights: openAccess
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