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Title: Os Timbiras: os paradoxos antiépicos da Ilíada Brasileira
Authors: Grizoste, Weberson Fernandes 
Orientador: André, Carlos Ascenso
Keywords: Indianismo; Antiépico
Issue Date: 3-Jan-2014
Citation: GRIZOSTE, Weberson Fernandes - Os Timbiras: os paradoxos antiépicos da Ilíada Brasileira [em linha]. Coimbra : [s.n], 2014. [Consult. Dia Mês Ano]. Tese de doutoramento. Disponível na WWW:<http://hdl.handle.net/10316/24181>
Abstract: São muitos os motivos que nos estimularam a desenvolver um trabalho em que as duas epopeias escolhidas pertencem, uma a um poeta latino do século I a.C, a outra a um poeta do Novo Mundo, do século XIX. Em primeiro lugar, notámos a excecional influência de Virgílio na estrutura épica d’Os Timbiras, apesar de Gonçalves Dias tê-la designado, no princípio, de Ilíada Brasileira; daí o porquê de o título dessa pesquisa evocar o poema de Homero. Ambos os poemas surgiram da mesma maneira e com a mesma intenção: encomendados pelos monarcas, deveriam tornar-se o poema épico nacional, um panegírico da nacionalidade de um povo que carecia afirmar-se enquanto tal, com vista a legar um monumento com uma mensagem de paz e amor aos seus descendentes. Em Meditação, Gonçalves Dias havia refletido sobre a falta de monumentos excecionais no Império do Brasil, e por isso exaltara mais as pinturas do Japurá, sentindo que elas transmitiam mais contentamento do que as cidades do Império – semelhantes às árvores raquíticas plantadas no sertão. Decidido a mudar essa realidade, ciente de que os Portugueses eram mais famosos pelo poema do seu vate maior do que pelas armas, encorajado pelo Imperador e por seus admiradores, com a promessa de uma gratificação vantajosa e a glória de ser chamado de “poeta nacional”, Gonçalves Dias anunciou Os Timbiras, a que ele mesmo também chamou de Génesis Americano. Contudo, Os Timbiras se tornaram um poema de sofrimento, do amor que não sobrevive sem a guerra, do homem americano para sempre perdido, uma reflexão daquilo que o Brasil realmente é: um filho de Portugal. Do outro lado, a Eneida celebrava a paz por meio da guerra, porque só ela é capaz de assegurar o controlo sobre a turba insatisfeita; é o poema de Tróia ressuscitada no Lácio, embora o herói fundador não tenha chegado a ver cumprir a profecia dos deuses, e por isso tenha preferido perecer junto com os outros Troianos, nas muralhas da cidade. As semelhanças entre os poemas são muitas: Eneias é um homem sem pátria à procura de asilo no Lácio; Itajuba e os Timbiras irão numa busca debalde por asilo na terra dos seus ancestrais, no vale imponente e hostil do Amazonas (esse rio, o exemplo excelso da nacionalidade brasileira, mestiço no nome, conservou no seu curso o indígena “Solimões”, substituindo “Pará” pelo termo europeu, surgido de uma lenda sobretudo europeia). A América infeliz e arruinada é a imagem de Tróia arrasada; Roma surge das cinzas de Tróia e o Brasil das cinzas do homem Americano. A forma como Eneias conduz a batalha contra Turno, bem como o seu desfecho, revelaram o espírito do homem Romano, daí o porquê de tanto pessimismo. Do outro lado, Gonçalves Dias queixar-se-ia que a América era um arremedo das terras longínquas: uma mistura de África e Europa amalgamada com as cinzas da América distante no espaço. Eis a fraqueza do poeta: não consegue assistir ao (triste) arremedo e cantá-lo sem despojar a sua mágoa com os infortúnios da raça brasileira, do homem africano e do homem americano diante da cobiça e soberba do europeu. Assim, em Meditação o poeta cai exânime; em Os Timbiras, Jurucei é quem cai, sob a mira de uma flecha traiçoeira. Por fim, o seu Génesis assumiu feições apocalíticas, e a Ilíada vestiu as roupagens de uma Eneida tropical. O Brasil, enquanto arremedo, não teve a sorte de Portugal. Dom Pedro II não teve a sorte de Augusto. Gonçalves Dias não teve a sorte de Camões, porque não conseguiu salvar o seu poema das águas bravias do Atlântico, junto à baía de Cumã. A Eneida ficou inacabada, Os Timbiras também. Inacabado para sempre porque o poeta não encontrou fôlego para concluir a sua epopeia, além de que a era dos poemas longos tinha já cumprido o seu ciclo. Restou-nos um poema taciturno bastante semelhante à Eneida, porque ambos revelam a realidade nua e cruel da humanidade: o rosto da morte que não vive sem a vida, o rosto da glória que surge da ruína. Ambos os poetas, Gonçalves Dias e Virgílio, morreram tristes, magoados, feridos com todas as mágoas de uma nação inteira, sem que as suas mensagens tenham sido compreendidas pelas gentes de seu tempo, além da angustiante incerteza de que as do futuro, essas sim, viriam a entendê-los.
There are several reasons that made us develop a work upon two chosen epic poems, one from a Latin poet of the 1st century B.C., the other one from a poet of the New World in the 19th century. On one hand, we noticed the exceptional influence of Virgil on the epic structure of the Timbiras, even if Gonçalves Dias himself called to his poem, at the beginning, the Brazilian Iliad; hence why the title of this research reminds us of Homer’s poem. Both poems appeared in the same way and with the same purpose: commissioned by monarchs, they were to become the National Epic Poem, a panegyric of the nationality of the one people that wanted to affirm as such, and bequeath to erect a monument of peace and love for their descendants. In Meditação, Gonçalves Dias had reflected upon the lack of exceptional monuments in the Braziliam Empire, and that is why he prefers to exalt more the Japura pictures, feeling that they conveyed more contentment than the cities of the Empire themselves, which resembled the stunted trees planted in the sertão. He was determined to exchange this reality, aware that the Portuguese people was more famous for the poetry of his major poet than for the arms, encouraged by the Emperor and their admirers, with the promise of a advantageous gratification and the glory to be known as the National Poet; Gonçalves Dias announced the Timbiras, which he also called American Genesis. However, the Timbiras became a poem of suffering, of love that cannot survive without war, of the American man forever lost, a reflection of what Brazil really is: a son of Portugal. On the other hand, the Aeneid, celebrating peace and war, since only the latest is able to ensure the control of the unhappy crowd; it is the poem of a Troy that rebirths in the Latio, although the founding hero was not see fulfilled the prophecy of the gods; hence why he preferred to have perished together with the Trojans, near the city walls. The similarities between the poems are several: Aeneas is a man without a homeland seeking for asylum in the Latio; Itajuba and the Timbiras in vain will search for asylum in the homeland of their ancestor, in the imposing and hostile Amazon valley (this river, the excelsior example of the Brazilian nationality, within its mestizo name, kept “Solimões”, the original indigenous, supplanting “Pará” for the European name, from a legend which is mostly European). The ruined and unhappy America is the same image of the ruined Troy; Rome arised from the Trojan ashes as did Brazil from the American man’s ashes. The way in which Aeneas manages the battle against Turno, as well as its upshot, revealed the spirit of the Roman man, and there is the reason for so reproduction of remote lands: a mixture of Africa and Europe amalgamated within the ashes of a distant America. Here rests the poet’s weakness: he fails to watch to the (sad) reproduction and sings without relinquish his pains for the misfortunes of the Brazilian race, of the African and American man previous to the greed and arrogance of the European. Therefore, in Meditação, the poet falls lifeless; in the Timbiras, the one who falls is Jurucei, under the gun of a treacherous arrow. Lastly, his Genesis assumed apocalyptic features and in it the Iliad donned the garb of a tropical Aeneid. Being a reproduction, Brazil didn’t have Portugal’s luck. Don Pedro II hadn’t August luck. And not even Gonçalves Dias had the luck of Camões, when failing to save his poem of the Atlantic choppy water, near the Cumã bay. The Aeneid remains unfinished, as the Timbiras do. Unfinished forever since his poet had not breath to finish and polish his epopee, and since he was already far beyond the era of longs poems. He left us rather a taciturn poem, quite similar to Virgil’s Aeneid, because they both reveal the stark humanity reality: the face of death that cannot survive without the life, the face of glory that emerges from ruin. Both poets, Gonçalves Dias and Virgil, died sad, hurting, wounded by the pains of an entire nation, without their messages having been understood by the people of his time, but also with the agonizing uncertainly if they would be understood by the people of the future.
Description: Tese de doutoramento em Poética e Hermenêutica apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
URI: https://hdl.handle.net/10316/24181
Rights: openAccess
Appears in Collections:FLUC Secção de Estudos Clássicos - Teses de Doutoramento

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