Deficiência de Vitamina D numa População Hospitalar e seus Preditores: Desenvolvimento de Questionário de Rastreio

Abstract

Introdução: A elevada prevalência da deficiência de Vitamina D, reportada em diversos estudos, e o reconhecimento de potenciais consequências para a saúde do indivíduo, além das classicamente reconhecidas, têm aumentado o interesse dos clínicos pela Vitamina D condicionando um aumento dos doseamentos (e respetivos custos). Este estudo teve como objetivo principal desenvolver um questionário clínico para identificação de pessoas com risco de deficiência de Vitamina D. Pretendeu, ainda, avaliar a associação entre o status de Vitamina D, fatores sociodemográficos e determinadas manifestações, tanto clínicas como laboratoriais, potencialmente associadas à deficiência de Vitamina D. Métodos: Estudo observacional, transversal, unicêntrico realizado no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) de julho a novembro de 2016. A amostra estudada incluiu doentes seguidos nos Departamentos de Reumatologia, Medicina Interna, Neurologia, Endocrinologia e Infecciologia dos CHUC, cujo doseamento de Vitamina D foi realizado no Laboratório de Patologia Clínica dos CHUC. Os doentes foram identificados através de pesquisa eletrónica semanal no registo do mencionado laboratório. Os doentes identificados foram contactados telefonicamente e convidados a participar. Após consentimento, foi aplicado um questionário standardizado para recolha de dados. A análise estatística foi realizada utilizando o SPSS. Todas as análises foram realizadas para a amostra total e no subgrupo de doentes sem suplementação atual de Vitamina D. p<0.05 foi considerado estatisticamente significativo em todas as análises. Resultados: A prevalência de níveis baixos de vitamina D encontrada foi de 44%, sendo que 2% dos doentes apresentava deficiência severa, 10% apresentava deficiência e 32% apresentava insuficiência de vitamina D. Níveis baixos de vitamina D foram associados a peso elevado e IMC elevado, escassa prática de exercício físico e pouco tempo passado em pé e evicção da exposição solar durante o período de primavera e verão. Foi, ainda, encontrada relação estatisticamente significativa entre níveis baixos de vitamina D e prevalência de fibromialgia (na amostra total) e níveis altos de paratormona (não suplementados). Não foi encontrada relação estatisticamente significativa entre nenhuma das manifestações clínicas e os níveis de vitamina D.Discussão e Conclusão: Algumas das relações encontradas entre variáveis estudadas e níveis baixos de vitamina D corroboram estudos já elaborados com resultados semelhantes. No entanto, não foi possível encontrar um modelo preditor fiável de deficiência de vitamina D, ficando a faltar estudos de maiores dimensão e robustez.

Introduction: The high prevalence of Vitamin D deficiency reported in several studies and the recognition of potential health consequences of the individual, in addition to the classically recognized ones, has increased the clinicians' interest in Vitamin D, resulting in increased dosages (and their costs). The main objective of this study was to develop a clinical questionnaire to identify people at high risk for vitamin D deficiency. It also aimed to evaluate the association between vitamin D status and sociodemographic factors and certain clinical and laboratory manifestations potentially associated with vitamin D deficiency. Methods: A cross-sectional, unicentric observational study was performed at the Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) from July to November 2016. The sample included patients followed in the departments of Rheumatology, Internal Medicine, Neurology, Endocrinology and Infectious Diseases of CHUC with Vitamin D measures in the Laboratory of Clinical Pathology of the CHUC in the mentioned period and that were identified, retrospectively, by electronic research, in the database of computer records of the laboratory, with a weekly frequency. The identified patients were contacted by telephone and invited to participate. A standardized questionnaire was used to collect data. Statistical analysis was performed using SPSS. All analyses were performed for the whole sample and in the subgroup of patients without current Vitamin D supplementation. P <0.05 was considered statistically significant in all analyses.Results: The prevalence of low vitamin D levels was 44%; 2% of the patients had severe deficiency, 10% had deficiency and 32% had insufficient vitamin D. Low levels of vitamin D were associated with high weight and high BMI, poor exercise and little time spent standing and avoiding sun exposure during the spring and summer period. There was also a statistically significant relationship between low levels of vitamin D and prevalence of fibromyalgia (in the total sample) and high levels of parathormone (not supplemented). No statistically significant relationship was found between any of the clinical manifestations and vitamin D levels.Discussion and Conclusion: Some of the relationships found between studied variables and low levels of vitamin D corroborate studies already elaborated with similar results. However, it was not possible to find a reliable predictor model of vitamin D deficiency, lacking studies of greater size and robustness.