Solidão e depressão no idoso: Estudo do efeito moderador da utilização e atitude face às TIC

Abstract

As alterações demográficas atuais na Europa Ocidental e também em Portugal, têm sido caraterizadas pelo sucessivo aumento da longevidade e aumento da população idosa. Associado ao envelhecimento, conforme relatado na literatura, está uma diminuição na qualidade e satisfação com a vida e o decréscimo da autonomia e independência, com um forte impacto na saúde física e mental. A depressão surge então como uma das perturbações mais prevalentes no idoso, acompanhada pela vivência de sentimentos de solidão, decorrentes da diminuição da sua participação ativa na sociedade. Para contornar esta tendência, a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) pode ser considerada um recurso útil à promoção de um envelhecimento saudável, contribuindo para a prevenção do isolamento social das pessoas idosas. Nesta perspetiva, o presente estudo teve como principal objetivo analisar o efeito preditor da solidão na sintomatologia depressiva na terceira idade, examinando o efeito moderador da utilização e da atitude face às TIC. A amostra do presente estudo incluiu 734 sujeitos, divididos em dois grupos: amostra da população geral (n = 669) e amostra de doentes com perturbações emocionais (n = 65). Através dos instrumentos de autorresposta pretendia-se avaliar a presença de sentimentos de solidão (UCLA Loneliness Scale – UCLA-LS; Pocinho, Farate, & Dias, 2010; Russel, 1996), sintomatologia depressiva (Escala de Depressão Geriátrica - GDS-15; Apóstolo et al., 2014; Sheikh & Yesavage, 1986) e utilização e atitude face às TIC (questões genéricas elaboradas para avaliar a utilização de diferentes meios de comunicação e atitude face ao mesmos). Na amostra da população geral, os resultados obtidos indicam que as mulheres evidenciam maiores níveis de sintomatologia depressiva e mais sentimentos de solidão. Observou-se que, no concerne às diferentes faixas etárias analisadas, são os idosos com mais de 80 anos que relatam maiores níveis de solidão (subescala Afinidades). Por outro lado, são os indivíduos entre os 60-69 anos que apresentam uma maior taxa de utilização das TIC e uma atitude mais positiva face às TIC. Na amostra de doentes com perturbações emocionais foi, novamente, o género feminino que registou maiores níveis de sintomatologia depressiva, não se verificando diferenças estatisticamente significativas entre os grupos etários, no que respeita à solidão e depressão. Observaram-se diferenças entre as duas amostras no que respeita à gravidade da sintomatologia depressiva e à presença de sentimentos de solidão. Na amostra de doentes com perturbações emocionais constatou-se a existência de mais indivíduos com sintomatologia depressiva moderada e grave, assim como uma percentagem superior de idosos com sentimentos de solidão. Quanto ao objetivo principal do estudo confirmou-se a função moderadora da utilização das TIC na relação entre sentimentos de solidão (ambas as subescalas, ou seja, Isolamento Social e Afinidades) e sintomatologia depressiva, na amostra da população geral. Nos doentes com perturbações emocionais a utilização das TIC apenas se mostrou moderadora relativamente à subescala Afinidades. A atitude face às TIC não se revelou moderadora em ambas as amostras. O presente estudo contribuiu para analisar a relação existente entre sentimentos de solidão e sintomatologia depressiva nos idosos portugueses com e sem perturbações emocionais, bem como averiguar a função moderadora da utilização e atitude face às TIC nesta relação.

The current demographic changes in Western Europe and also in Por-tugal have been characterized by the successive increase of the longevity and increase of the elderly population. Associated with aging, as reported in the literature, there is a decrease in life quality and satisfaction and a de-crease in autonomy and independence, with a strong impact on physical and mental health. Depression emerges as one of the most prevalent disorders in the elderly, accompanied by the experience of feelings of loneliness, resulting from the reduction of their active participation in society. To circumvent this trend, the use of Information and Communication Technologies (ICT) can be considered a useful resource to promote healthy aging, contributing to the prevention of the elderly’s social isolation. In this perspective, the main goal of this study is to analyze the predictive effect of solitude on depressive symptomatology in the elderly, examining the moderating effect of use and attitudes towards ICT.The sample of the present study included 734 subjects, divided into two groups: the general population sample (n = 669) and the sample of patients with emotional disturbances (n = 65). The objective of this study was to evaluate the presence of feelings of loneliness (UCLA Loneliness Scale - UCLA-LS; Pocinho, Farate, & Dias, 2010; Russel, 1996), depressive symptomatology (Geriatric Depression Scale - GDS-15; Apóstolo et al., 2014; Sheikh & Yesavage, 1986) and use and attitude towards ICTs to evaluate the use of different means of communication and attitude towards them.In the general population sample, the results indicate that women show higher levels of depressive symptomatology and more feelings of loneliness. It was observed that, in relation to the different age groups analyzed, it is the elderly with more than 80 years that report higher levels of solitude (Affinity subscale). On the other hand, individuals between 60-69 years are the ones who have a higher rate of ICT use and a more positive attitude towards ICT. In the sample of patients with emotional disorders, it was once again the female gender that had higher levels of depressive symptomatology. However, there were no statistically significant differences between the age groups in terms of solitude and depression.Differences were observed between the two samples regarding to gravity of depressive symptomatology and the presence of solitude feelings. In the emotional disturbances patients sample, it was verified that there were more subjects with moderate and severe depressive symptomatology, as well as a higher percentage of elderly with feelings of loneliness. As for the main purpose of the study, the moderating role of ICT use in the relationship between feelings of loneliness (both subscales, i.e., Social Isolation and Affinities) and depressive symptomatology in the general population sample is confirmed. In patients with emotional disturbances, the use of ICT only showed to be moderated regarding the affinity subscale. The attitudes regarding ICT showed up to be moderate in both samples.This study contributed to analyze the relationship between feelings of loneliness and depressive symptomatology in the Portuguese elderly with and without emotional disorders, as well as to verify the moderating function of the use and attitudes towards ICT in this relation.