Decisões reprodutivas em sociedades desenvolvidas com baixa fecundidade: efeitos dos compromissos de história de vida humana e influência da rede social.

Abstract

The decline of fertility, along with the population ageing that has been observed in economically developed populations in the last few decades, constitutes a demographic reality with alarming economical, political and structural consequences in the organisation of societies. Although the world population has been suffering from a dramatic growth in the course of the 20th century, the decline of fertility in the developed societies, with social models that depend on the existence of active population to guarantee economic growth and maintaining quality of life, represents an important global challenge. These fast demographic changes have been reported mainly on European societies, including Portugal, with a Fertility Synthetic Index of 2,1, below the population replacement threshold. The demographic transition is characterised by a steep decline of fertility and mortality, while simultaneously occurring an overall improvement of living conditions and wealth increase, and by the emerging negative connotation between resource availability and reproduction, therefore presenting an evolutionary puzzle. The current investigation had as the main purpose to combine a few approaches from Human Behavioural Ecology, Evolutionary Psychology and Cultural Evolution to analyse the reproductive decisions of individuals, starting from the approach of the Human Life-History Theory and the social networks approach, taking into account variables relative to the individual socioeconomic context in two stages of their lives (childhood and present-time), as well as the life-history trade-offs, obstacles to fertility, subjective evaluation of life satisfaction, cultural evolution processes and influence of social network composition. It was not possible to observe any associations between childhood socioeconomic context and fertility behaviours of individuals in the current sample. The results have shown that reproductive decisions and intentions are influenced by the present-time socioeconomic context, life-history trade-offs and by life choices and circumstances, and that the delaying of reproductive timing is influenced by the preference for investments in embodied capital and in hedonistic well-being. Furthermore, it was possible to observe that social influence plays an important role in reproductive behaviours, and that under certain circumstances it can help decrease the age at first child.

O declínio da fecundidade, em conjunto com o envelhecimento populacional que se tem observado nas populações economicamente desenvolvidas ao longo das últimas décadas, constitui uma realidade demográfica com preocupantes consequências económicas, políticas e estruturais na organização das sociedades. Apesar da população mundial ter sofrido um crescimento dramático no decorrer do século XX, o declínio da fecundidade nas sociedades desenvolvidas, com modelos sociais que dependem da existência de população activa para garantir o crescimento económico e manutenção da qualidade de vida constitui um importante desafio global. Estas rápidas alterações demográficas têm sido registadas principalmente nas sociedades Europeias, entre as quais se encontra Portugal, com um Índice Sintético de Fecundidade de 2,1, abaixo do limiar de substituição das populações. A transição demográfica caracteriza-se por um acentuado declínio na fecundidade e na mortalidade, ao mesmo tempo que ocorre uma melhoria generalizada das condições de vida e aumento da riqueza, e pela emergência de uma associação negativa entre a disponibilidade de recursos e a reprodução, apresentando-se como um quebra-cabeças evolutivo. A presente investigação teve como principal objectivo conjugar algumas abordagens da Ecologia Comportamental Humana, Psicologia Evolutiva e Evolução Cultural para analisar as decisões reprodutivas dos indivíduos, partindo da abordagem da Teoria de História de Vida Humana e à abordagem à rede de relacionamentos sociais, considerando-se variáveis relativas ao contexto socioeconómico dos indivíduos em duas fases da sua vida (infância e presente), bem como os compromissos de história de vida, obstáculos à fecundidade, avaliação subjectiva de satisfação com a vida, contexto individual de início de parentalidade e influência da composição da rede social. Não foi possível observar quaisquer associações entre o contexto socioeconómico na infância e os comportamentos reprodutivos dos indivíduos da presente amostra. Os resultados demonstraram que decisões e intenções de ter filhos reprodutivas são influenciadas pelo contexto socioeconómico actual, compromissos de história de vida e por circunstâncias e opções de vida, e que o adiamento da entrada na parentalidade é influenciado pela preferência pelo investimento no capital incorporado e no bem-estar hedonista. Adicionalmente, foi possível observar que a influência social desempenha um papel importante nos comportamentos reprodutivos, podendo sob determinadas circunstâncias diminuir a idade de entrada na parentalidade.