Contributo para a elaboração de um guia de boas práticas na visita domiciliária a idosos isolados polimedicados: conservação de medicamentos

Abstract

Introdução: Na população idosa, frequentemente, há um predomínio de múltiplas doenças crónicas e, por conseguinte, o consumo de vários medicamentos, o que torna os idosos mais suscetíveis a erros e problemas relacionados com a medicação. Assegurar a qualidade da utilização dos medicamentos por parte da população idosa é fulcral, surgindo como uma excelente oportunidade de intervenção farmacêutica. A dificuldade na utilização de medicamentos e a grande quantidade de problemas associados faz do farmacêutico um colaborador necessário no cuidado do idoso através da identificação, avaliação e prevenção dos potenciais problemas relacionados com a medicação. Objetivos: Avaliar, numa amostra de idosos, tanto os seus conhecimentos sobre os medicamentos que têm em casa como a capacidade de gerir a própria medicação nas condições reais em que vivem, nomeadamente no que diz respeito à conservação de medicamentos nos seus domicílios. Metodologia: A amostra do estudo foi constituída por indivíduos com 65 ou mais anos de idade, medicados e que integram a rede de apoio domiciliário da Câmara Municipal de Coimbra no que concerne ao fornecimento de refeições ao fim-de-semana. Os dados foram recolhidos em visitas domiciliárias com a aplicação de um questionário elaborado para o estudo. Resultados: O número de medicamentos armazenados por residência variou de 2 a 41 princípios ativos diferentes. Em média, por domicílio, foram encontrados 14 princípios ativos e 9 unidades medicamentosas que não estavam a ser utilizadas no momento da entrevista. 64% dos inquiridos referenciaram a questão do intuito de uso posterior como motivo para esta acumulação. Dos 21 domicílios visitados em 62% a cozinha foi o compartimento destinado ao armazenamento de medicamentos, inadequadamente. Tendo em conta o compartimento e o local específico de localização dos medicamentos, inferiu-se que vários locais se encontravam expostos, em maior escala, à humidade (43%) e ao calor (46%) e, em menor proporção, à luz (11%). Das unidades verificadas no estudo, 24% não apresentavam folheto informativo, 12% não apresentavam embalagem secundária e 15% apresentavam o prazo de validade expirado. Relativamente ao procedimento de descarte dos medicamentos, a população em estudo referiu predominantemente que mantinha os medicamentos em casa (40%), que os devolvia à farmácia (40%) ou que os colocava no lixo comum (36%). Conclusão: Os resultados obtidos demonstram a necessidade e a importância da educação e apoio continuados a indivíduos idosos relativos à utilização, armazenamento, cuidados e descarte de medicamentos. Através de visitas domiciliárias, o farmacêutico pode contribuir no desenvolvimento de atividades de promoção de saúde, nomeadamente estratégias de racionalização dos stocks domiciliários de medicamentos, garantindo a segurança e a maior efetividade do tratamento.

Introduction: There is often a predominance of multiple chronic diseases in the elderly population, which leads to the consumption of several types of medication. Therefore, elderly people are more prone to make mistakes and susceptible to problems related with medication. It is crucial to assure the quality of the use of medication in this population, which is an excellent opportunity for pharmaceutical intervention. The pharmacist is a valuable mediator when taking care of the elderly, due to the difficulty in the utilization of medicines and the high number of associated issues. Points of intervention are identification, evaluation and prevention of potential problems related with medication. Objectives: To assess a sample of elderly people in their knowledge about medication these citizens have in their private homes and the conservation of the medicines in the actual conditions in which they live. Methodology: The sample is made up of 65-year-old patients or older who take medication and are part of the network of home support of the City Council of Coimbra, receiving supplied weekend meals. The data was collected through home visits, in which the participants had to fill in a questionnaire elaborated for this research. Results: The number of medicines stored per private home varied between 2 and 41 different active substances. On average, in each private home, there were 14 active substances and 9 medicines that were not being used at the moment of the interview. 64% of the respondents mentioned they intended to use it in the future as a reason for this accumulation. Of the 21 visited private homes, 62% had the kitchen as the room for storing of the medicines, inadequately. Regarding the room and the specific place for keeping the medication, it was inferred that several of these places were exposed, to a great extent, to moisture (43%) and heat (46%) and, to a lesser extent, to light (11%). Of all the units verified in this study, 24% had no information leaflet, 12% had no outer packaging and 15% had already expired. When it comes to the disposal of medicines, the majority of the population in this research referred they stored it at home (40%), gave them back to the pharmacy (40%) or threw them in regular trash (36%). Conclusion: The results express the need and the importance of continued education and support to the elderly people, concerning use, storing, managing and disposal of medication. With the help of home visits, the pharmacist may contribute to the development of activities that promote health, namely strategies regarding rationalization of home stocks of medicines, ensuring safety and a better efficiency in the treatment.