Disfunção do pavimento pélvico associado à maternidade - O papel do coloproctologista

Abstract

Introdução: A disfunção do pavimento pélvico é uma entidade, de incidência crescente, que engloba um vasto espetro de apresentações clínicas e que é pautada por um impacto marcado na qualidade de vida do doente. O objetivo desta revisão prende-se, então, na análise dos mecanismos fisiopatológicos subjacentes a esta patologia e, adicionalmente, na avaliação do papel do coloproctologista no pré-parto, pós-parto e posterior seguimento, no sentido de minimizar a prevalência e o impacto da incontinência anal na vida futura da mulher.Material e Métodos: A pesquisa que suporta este trabalho baseia-se essencialmente em artigos de interesse selecionados da base de dados PUBMED e em livros científicos das áreas cirúrgica e obstétrica.Desenvolvimento: O trauma resultante da gravidez e do parto que predispõe as mulheres a desenvolver disfunção do pavimento pélvico aparenta ser de etiologia multifatorial, com destaque para as lesões musculares, nervosas, vasculares e do tecido conjuntivo. Adicionalmente, a taxa elevada de episiotomias praticadas de forma empírica e reiterada, o défice no reconhecimento clínico de lesões aquando do parto, assim como a sua anómala reparação, contribuem para as queixas de disfunção do pavimento pélvico, nomeadamente, a incontinência anal.O coloproctologista poderá desempenhar um papel em contexto pré-natal, com a identificação do padrão de inervação do esfíncter anal; na identificação e reparação de lesões obstétricas aquando do parto; e finalmente, num acompanhamento e gestão dos sintomas das mulheres pós-parto, com eventual implementação de um plano terapêutico.Conclusão: Embora, em teoria, o conhecimento e as práticas protocoladas por coloproctologistas estejam associadas a melhor prognóstico, não há estudos que demonstrem superioridade na intervenção destes especialistas na prevenção e gestão de lesões obstétricas.

Introduction: Pelvic floor dysfunction is an entity that includes a range of clinical presentations, whose prevalence is increasing along with its impact on the quality of patient’s life. The purpose of this review is to analyze the pathophysiological mechanisms underlying this disease and evaluate the role of the coloproctologist in prenatal, postpartum and follow-up evaluation, in order to minimize the prevalence and the impact of anal incontinence on woman's future life.Material and Methods: The research that supports this work is based on articles of interest selected through PUBMED database and surgery and obstetrics’ literature.Development: The trauma resulting from pregnancy and childbirth that predisposes women to develop pelvic floor dysfunction appears to be multifatorial, with emphasis on muscle, nerve, vascular and connective tissue injuries. In addition, the high rate of episiotomies practiced empirically and repeatedly, the deficit in clinical recognition of lesions at the time of delivery, as well as their anomalous repair, contribute to pelvic floor dysfunction, namely, anal incontinence.The coloproctologist could play a role in prenatal care by identifying anal sphincter innervation pattern and by recognising and repairing obstetric injuries at birth. Moreover, this physician could take part in monitoring and managing the symptoms in postpartum and he might suggest a therapeutic plan.Conclusion: Although in theory the knowledge and practices of coloproctologists are associated with a better prognosis, there are no studies that demonstrate superiority in their intervention in regard of prevention and management of obstetric injuries.