A representação do burkini nos média portugueses: Análise de textos jornalísticos e comentários de utilizadores

Abstract

No Verão de 2016 o burkini torna-se um tópico mediático internacional, após as proibições deste fato de banho em várias regiões francesas. Os média de Portugal não se revelaram indiferentes, gerando-se representações das mulheres que utilizam o burkini, e que são subalternizadas sobre um conjunto de fatores identificadores como o género, etnia, religião, classe social. Este trabalho pretende compreender que tipo de valores, crenças e ideologias estão presentes quer nos textos jornalísticos, quer nos comentários gerados por utilizadores, em que o burkini é o foco. Partiu-se de um enquadramento feminista e atento à tradição do Orientalismo. Assim, através de análises temáticas críticas identificaram-se quatro temas críticos que orientam quer os textos jornalísticos como os comentários incluídos nos corpora. Foi também aplicada uma análise de conteúdo visual para uma melhor compreensão do cenário das redações jornalísticas dos média portugueses no que toca às narrativas focadas no burkini. Os resultados dão conta de diferenças estruturais entre as realidades dos textos jornalísticos e dos comentários. Se nos primeiros, há maior frequência de peças que se focam nos desenvolvimentos das leis de proibição do burkini e na implementação policial dessas mesmas; no que toca aos comentários, a esmagadora maioria apresenta uma narrativa de perpetuação da ostracização e subalternização dos “outros” – mulheres muçulmanas que utilizam o burkini. Estes resultados apontam no sentido dos média jornalísticos portugueses procurarem uma ideia de neutralidade e isenção jornalística – ideia corroborada também pelos resultados da análise de conteúdo visual. Por sua vez, a realidade dos comentários analisados demonstra uma polarização das narrativas, onde não há lugar de destaque à neutralidade. A conjugação destes resultados, aponta para a ideia de que o panorama mediático online português não desafia o status quo da posição hegemónica do Ocidente para com os “outros”, o Oriente, as mulheres, os muçulmanos, os não privilegiados.

In the summer of 2016, the burkini became an international topic of media, after the bans of this swimmingsuit in several regions of France. Portuguese media were no indifferent, generating representations of women who wear the burkini, which are subordinated under a set of identifying factors such as gender, ethnicity, religion and social class. This work intends to understand the type of values, beliefs and ideologies beneath the narratives of journalistic texts and user generated comments, in which the focus is the burkini. It was based on a feminist framework, attentive to the tradition of Orientalism. Therefore, through critical thematic analyzes, four critical themes were identified, which guide both the journalistic texts and the comments included in the corpora. A visual content analysis was applied aswell for a better understanding of the scenario of the newsrooms of Portuguese media, regarding the narratives focused on the burkini. The results show structural differences between the realities of the journalistic texts and the comments. If in the first, there is a higher frequency of texts that focus on the development of burkini ban laws and on their police implementation; when it comes to the comments, an overwhelming majority present a narrative that perpetuate the ostracization and subordination of “others” – Muslim women that wear the burkini. These results point in a direction in which the Portuguese journalism media seek of neutrality and journalistic exemption – an idea also corroborated by the results of the visual content analysis. In turn, the reality of the analyzed comments demonstrates a polarization of the narratives, which leaves no feature place for neutrality. The combination of the results indicates that the Portuguese online media landscape does not challenge the status quo of the hegemonic position of the West in regard to the “others”, the East, women, Muslims, the underprivileged.