Consciência Crítica e Valores Políticos. Estudo exploratório

Abstract

This exploratory study sought to examine a potential correlation between critical consciousness and political values. The mixed-methodology approach comprised, in its initial phase, an online survey with a sample of 163 individuals who responded to a series of scales designed to measure critical consciousness (ShoCCS, Diemer, Frisby, Pined, Bardelli, Elliot, Harris, McAlister, Voight, 2020), a translated and yet unpublished version by Almeida and Ferreira (2020); right-wing authoritarian political values (RWA, Altemeyer, 1981); and social desirability (EDS-20, Simões, Almiro, Sousa, 2014).The second phase of the research (qualitative) involved conducting interviews with participants who, in the previous phase, had provided their contact information for the continuation of the study. This group consisted of 10 individuals who responded to 17 questions aimed at refining the data obtained from the online survey. Subsequent data analysis confirmed a weak negative linear correlation between the variables. Therefore, the study allows us to suggest that as critical consciousness increases, right-wing authoritarian political values decrease. These findings are significant for understanding how critical consciousness can impact individuals' attitudes toward political values and may have practical implications for civic education and training.In this context, while analyzing the interviews, some considerations can also be noted: Religion, the living environment (rural or urban), personal conviction in self-formed new ideas, personal experiences and their elaboration, willingness to study and reflect on the surrounding reality, predisposition toward obedience or conformity with norms, processes of identification and counter-identification, family upbringing, school, the concept of examples or behavioral models experienced during childhood and adolescence, and later in life, the purpose in life. Each of these constructs has been examined in various works in psychology, and in this exploratory research, we were able to extract them from the brief narratives produced during the empirical work.In conclusion, the overarching question arises: can psychology assist in understanding the mechanisms of formation and development of critical consciousness in human beings? Is psychology taking into account all it already knows about human development (cognitive, moral, psychosocial) to support the construction of more free, diverse, and secure communities (societies)? Further research will be required, but we believe that the approach presented here may have already unveiled some aspects and can also contribute to the understanding of critical consciousness in this field of knowledge.

O presente estudo exploratório procurou examinar uma possível correlação entre a consciência crítica e os valores políticos. A metodologia mista consistiu, numa primeira fase, num inquérito online com uma amostra de 163 indivíduos que responderam a uma série de escalas concebidas para medir a consciência crítica (ShoCCS, Diemer, Frisby, Pined, Bardelli, Elliot, Harris, McAlister, Voight, 2020), versão traduzida e ainda por publicar de Almeida e Ferreira (2020); os valores políticos autoritários de direita (RWA, Altemeyer, 1981) e a desejabilidade social (EDS-20, Simões, Almiro, Sousa, 2014). O segundo momento da investigação (qualitativo) foi composto pela realização de entrevistas a participantes que, na fase anterior, tinham deixado o seu contacto para a continuação do estudo; este grupo foi composto por 10 indivíduos que responderam a 17 questões que procuraram apurar os dados obtidos na recolha online. A posterior análise dos dados confirmou uma correlação linear fraca e negativa entre as variáveis. Assim sendo, o estudo permite-nos apontar para a leitura de que à medida que a consciência crítica aumenta, os valores políticos autoritários de direita diminuem. Estes resultados são importantes para compreender como a consciência crítica pode afetar as atitudes das pessoas no que diz respeito aos valores políticos e podem ter implicações práticas para a educação cívica e cidadania. Nesse sentido, ao analisar as entrevistas, algumas considerações podem também ser agora registadas: a religião, o meio (rural ou urbano) onde se vive, a convicção nas novas ideias pessoalmente construídas, as experiências e sua elaboração pessoal, a disponibilidade para estudar e refletir sobre os dados da realidade circundante, a predisposição para a obediência ou a conformidade com as normas, os processos de identificação e contra-identificação, a educação familiar e a escola, a conceção de exemplo ou de modelos de comportamento que se experienciam na infância e adolescência e, mais tarde, o propósito na vida. Quaisquer destes constructos estão estudados por diversos trabalhos na Psicologia e nesta investigação, de caráter exploratório, pudemos retirá-los das narrativas breves produzidas aquando do trabalho empírico. Resulta, enfim, a grande questão: poderá a psicologia ajudar a compreender os mecanismos de formação e desenvolvimento da consciência crítica dos seres humanos? Estará a psicologia a tomar em consideração tudo o que já sabe acerca do desenvolvimento humano (cognitivo, moral, psicossocial) para apoiar a construção de comunidades (sociedades) mais livres, plurais e seguras? Nova investigação será necessária, mas pensamos que a abordagem aqui apresentada pode deixar alguns véus já levantados e contribuir também para a consciência crítica nesta área do saber.