"A importância da escrita de cartas como estratégia de comunicação da pessoa com doença mental e o educador social: Um estudo de caso"

Abstract

No âmbito do Mestrado de Educação Social, Desenvolvimento e Dinâmicas Locais, precisamente, no estágio curricular realizado na instituição APPACDM de Soure, desenvolvemos este trabalho intitulado "A importância da escrita das cartas como estratégia de comunicação da pessoa com doença mental e o educador social: Um estudo de caso". Teve como principal objetivo evidenciar a importância da escrita de cartas como estratégia de comunicação na relação do indivíduo com doença mental e o educador social, seguindo a inovadora metodologia da análise de cartas. Optou-se pela divisão do trabalho em duas partes. A primeira contemplará os aspetos referentes ao enquadramento teórico que fundamentam a abordagem prática do trabalho, mais especificamente a área da doença mental, o papel do educador social, intervenção na doença mental, o Modelo de Bronfenbrenner na compreensão das relações humanas e a importância da comunicação com o doente mental. Nessa segunda parte, apresenta-se “um estudo de caso”, partindo da premissa de João Amado (2017, p.141), citando Stake (2007), que “o verdadeiro objetivo do estudo de caso é a particularização, não a generalização. Pegamos no caso particular e ficamos a conhecê-lo bem, numa primeira fase não por aquilo em que difere dos outros, mas pelo que é, pelo que faz.” A metodologia utilizada contemplou a leitura e, posterior, análise de cartas escritas por um sujeito com doença mental, indivíduo do sexo feminino, residente na Residência Autónoma, resposta social, que visa a desinstitucionalização, da APPACDM de Soure, desde dezembro de 2016. Para contextualizar, serão, sumariamente, caracterizados/das o sujeito e a instituição que o acolheu. Seguir-se-ão a análise e a apresentação dos resultados obtidos, ou seja, os dados recolhidos, organizados e analisados em categorias e subcategorias. O material recolhido será dividido em duas categorias de relações (intrapessoal e interpessoal) e em quatro subcategorias (tempo, emoções, contexto e tema). Em modo de conclusão o objeto de estudo e o objetivo deste trabalho foram, cuidadosamente, pensados, ponderados e, posteriormente, escolhidos, bem como o método, a metodologia, a estrutura e a abordagem. O plano foi delimitado, traçado e seguido à risca, tanto quanto possível. No decorrer do percurso, paralelamente aos avanços, houve recuos, em menor escala. Paralelamente à satisfação, houve alguma insatisfação. Paralelamente ao sucesso e ao ânimo, houve algum insucesso e algum desânimo. Houve momentos de gáudio e outros de alguma frustração, confessamos. Houve ajustes e reajustes. Houve supressões e acrescentos. Houve contratempos e houve, por fim, sempre um gosto e um prazer imensos no que fazíamos. Pesem embora as contrariedades próprias da realização de um trabalho desta natureza, cada momento dedicado à sua realização foi de enriquecimento pessoal e profissional. Sentimo-nos a crescer enquanto educadores sociais e enquanto cidadãos conscientes e ativos.Este contacto mais próximo com a autora das cartas foi enriquecedor para ambas. Como se poderá comprovar pela análise dos registos, a relação estabelecida entre nós foi, na visão do sujeito, pautada pelo respeito, pela confiança e pela amizade. Esta proximidade, proporcionada pelo facto de ambas termos frequentado a nova valência (Residência Autónoma) da entidade onde trabalhamos, APPACDM de Soure, desencadeou, ao longo dos vários meses, alterações significativas no comportamento de M. e na visão que tivemos de nós e de ela própria. Obviamente que se constatou estas mesmas alterações e não seríamos sinceros se deixássemos de afirmar que nos aprouve contribuir para isso. Satisfez-nos saber que éramos uma boa influência para o sujeito. Terminada a escrita das cartas em análise e a nossa deslocação para outra valência dentro da instituição, a proximidade não se perdeu e foi com alguma felicidade que continuamos a receber, embora com menor frequência, cartas redigidas, espontaneamente, por si. Também o contacto presencial não se perdeu e passamos, frequentemente, alguns momentos na sua companhia. Se tivéssemos de salientar o que de melhor e de pior ocorreu durante os meses que mediaram o início e o fim deste trabalho, destacaríamos, pela positiva, as alterações comportamentais do sujeito que muito contribuíram para o aumento da sua estabilidade e da sua felicidade e, pela negativa, aqueles momentos em que, por fatores externos, nos sentimos a vacilar.No momento da finalização e de reflexão, fizemos um balanço muito positivo da elaboração deste trabalho. Terminamos, afirmando que, também, nós nos tornámos uma pessoa diferente.Embora usual e sobejamente conhecida, consideramos esta declaração de Antoine de Sainte-Exupéry, sempre atual e pertinente: “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”

In the scope of the Master of Social Education, Development and Local Dynamics, precisely in the curricular stage carried out in the institution APPACDM de Soure, we developed this work entitled "The importance of letter writing as communication strategy of the person with mental illness and social educator: A case study ". The main objective of this study was to highlight the importance of letter writing as a communication strategy in the relationship between the individual with mental illness and the social educator, following the innovative methodology of card analysis.It was decided to split the work into two parts. The first one will contemplate aspects related to the theoretical framework that base the practical approach to work, more specifically the area of ​​mental illness, the role of the social educator, intervention in mental illness, the Bronfenbrenner Model in understanding human relations and the importance of communication with the mentally ill.In this second part, a "case study" is presented, based on the premise of João Amado (2017, p.141), citing Stake (2007), that "the true purpose of the case study is particularization, not generalization . We take it in the particular case and we get to know it well, in a first phase not because of what it differs from others, but because of what it is, what it does. "The methodology used included reading and then analyzing letters written by a subject of mental illness, a female individual residing in the Autonomous Residence, a social response, aimed at the deinstitutionalization, of the APPACDM de Soure, since December 2016. In order to contextualize, the subject and institution will be summarized. welcomed. The analysis and presentation of the results obtained, ie the data collected, organized and analyzed into categories and sub-categories will be followed. The collected material will be divided into two categories of relationships (intrapersonal and interpersonal) and in four subcategories (time, emotions, context and theme).In conclusion, the object of study and the purpose of this work were carefully thought out, weighted and subsequently chosen, as well as the method, methodology, structure and approach. The plan was delimited, traced and followed as closely as possible. Along the way, parallel to the advances, there were retreats, on a smaller scale. Along with satisfaction, there was some dissatisfaction. Parallel to the success and the mood, there was some failure and some discouragement. There were moments of gaiety and others of some frustration, we confess. There were adjustments and adjustments. There have been suppressions and additions. There were setbacks and there was, finally, an immense pleasure and pleasure in what we did. Despite the inconveniences inherent in the performance of such a work, each moment dedicated to its accomplishment was of personal and professional enrichment. We feel growing as social educators and as conscious and active citizens.This closer contact with the author of the letters was enriching for both. As can be seen from the analysis of the records, the relation established between us was, in the view of the subject, guided by respect, trust and friendship. This proximity, provided by the fact that both terms used the new valency (Autonomous Residency) of the entity where we worked, APPACDM de Soure, triggered, throughout the several months, significant changes in the behavior of M. and the vision that we had of us and of herself. Obviously we have seen these same changes and we would not be sincere if we failed to state that it was our pleasure to contribute. It pleased us to know that we were a good influence on the subject. Having finished writing the letters under analysis and moving to another place within the institution, the proximity was not lost and it was with some happiness that we continued to receive, albeit less frequently, spontaneously written letters. Also the face-to-face contact was not lost and we often spend a few moments in your company.If we had to emphasize the best and the worst that occurred during the months that started the work and the end of this work, we would highlight, positively, the behavioral changes of the subject that greatly contributed to the increase of its stability and happiness, by the negative, those moments in which, by external factors, we feel to falter.At the time of completion and reflection, we made a very positive assessment of the preparation of this work. We end by stating that, too, we have become a different person.Although usual and well-known, we consider this statement by Antoine de Sainte-Exupéry, always current and pertinent:"Those who pass by us do not go alone, they do not leave us alone. Leave a little of each other, take some of us. "