DIETA EM SANTARÉM MEDIEVAL: Análise antropológica e isotópica de uma amostra proveniente de Ribeira de Santarém, Santarém

Abstract

O estudo da dieta das populações humanas do passado é de extrema relevância possibilitando a sua reconstituição e refletindo potencialmente um acesso diferencial aos alimentos, o qual pode ser determinado por especificidades biológicas e socioeconómicas. Segundo as evidências históricas medievais, a dieta da população portuguesa seria constituída por cereais, vinho, carne e peixe.Na presente dissertação, caracterizou-se a dieta de uma amostra medieval proveniente da Necrópole da Rua dos Barcos, Ribeira de Santarém através de uma análise antropológica e isotópica. A amostra selecionada é composta por 36 indivíduos, 24 não-adultos e 12 adultos, com um intervalo etário situado entre as 38 semanas intrauterinas e superior a 50 anos. O estudo antropológico incluiu a análise da patologia oral e dos indicadores de stresse fisiológico. A análise de isótopos estáveis de carbono e azoto foi efetuada em 39 amostras de colagénio ósseo, 29 humanas e 10 faunísticas. As evidências da patologia oral foram indicativas de uma dieta cariogénica, ligeiramente abrasiva podendo ter influenciado a saúde oral dos indivíduos. Os indivíduos adultos foram mais afetados pelas condições patológicas orais, refletindo a natureza progressiva destas patologias. Observaram-se hipoplasias lineares do esmalte dentário em 11 indivíduos. Nos 22 crânios analisados, registou-se hiperostose porótica em 40,9% (9/22) e cribra orbitalia em 31,8% (7/22).A dieta predominante dos indivíduos analisados seria provavelmente baseada em proteína terrestre (plantas C3 e animais) com um possível consumo de plantas C4 e/ou proteína de origem aquática. A variabilidade observada nas estratégias de amamentação e desmame dos indivíduos pode refletir um curto intervalo entre nascimentos, variação na frequência e duração da amamentação.Os dados antropológicos e isotópicos foram consistentes com as evidências históricas da dieta na época Medieval. Durante este período, a dieta, monótona e deficiente em vitaminas, pode ter influenciado a prevalência dos indicadores de stresse fisiológico observados.

The study of diet in past human populations is of extreme importance, providing an insight of the social patterns of society and potentially reflecting a differential access to food determined by biological and socioeconomic restrains. According to medieval historic evidence, the Portuguese diet included cereals, wine, meat and fish.This study is focused on the reconstruction of the diet of a medieval sample from the Necropolis of Rua dos Barcos, Ribeira de Santarém through an anthropological and isotopic analysis. The selected sample consists of 36 individuals, 24 non-adults and 12 adults, with an age-at-death estimation between 38 weeks in utero and higher than 50 years. The anthropological study included oral pathology and physiological stress indicators. The carbon and nitrogen isotope analysis were conducted on 39 bone collagen samples, 29 human and 10 faunal remains. The dental pathology evidence was indicative of a cariogenic diet and slightly abrasive, which may have impact on the oral health of the individuals. The adults were more affected by the oral pathology conditions, reflecting the progressive nature of these pathologies. Linear enamel hypoplasia was recorded in 11 individuals. Of the 22 skulls analysed, 40,9% showed porotic hyperostosis (9/22) and 31,8% exhibited cribra orbitalia (7/22).The main diet of the individuals analysed was predominantly based on terrestrial protein (C3 plants and animals) with a possible input of C4 plants and/or with aquatic protein intake. The variability observed in the breastfeeding and weaning strategies applied to the individuals may reflect short birth intervals, variation in frequency and duration of breastfeeding.The dental pathology and isotopic data were consistent with the historical evidence from the Medieval period. In this period, the diet, monotonous and nutritionally deficient, could have affected the prevalence of the observed physiological stress indicators.